A filosofia está por trás de todas as ciências, e a informática não é
exceção. Antes de fazermos qualquer coisa deveríamos planejar, analisar
a situação anterior, a atual e o aquela onde queremos chegar, ou seja,
nosso objetivo. Para tanto é preciso pensar na filosofia da coisa ou, em
termos práticos, vejamos algumas idéias que julgamos importantes para
quem lida com manutenção de micros:
1 — Quando é que começa e acaba uma manutenção?
Muitos técnicos pensam que o conserto começa quando estão com o
aparelho defeituoso na bancada, com a chave de fenda na mão e prontos
para desmontar o “paciente”. Porém, a nosso ver, a manutenção começa no
exato momento em que o técnico toma conhecimento do problema, nem que
seja por telefone. Em outras palavras, desde o primeiro contato com o
cliente o procedimento de manutenção já se iniciou. A partir de então
cabe ao profissional tomar as providências de maneira correta, precisa e
coordenada para chegar ao bom término do serviço. E como é este
término? A situação ideal é que o aparelho fique funcionando, o cliente
esteja contente e, claro, o técnico saia com seu pagamento no bolso, num
valor justo e bom para todos.
2 — O equipamento já funcionou bem algum dia.
Este é um princípio básico da manutenção, valendo para qualquer tipo
de equipamento. É preciso entender que um equipamento em manutenção é
diferente de um aparelho novo, que está sendo posto em funcionamento
pela primeira vez. Um exemplo: é muito comum, quando se monta um novo
computador, que alguma peça tenha vindo de fábrica já com defeito ou que
seja incompatível com outros componentes do sistema. Não significa que
esteja defeituosa mas que, simplesmente, não funciona bem no conjunto ou
são incompatíveis. Mas isto só acontece em micros novos. Deve-se ter
sempre em mente que o computador que estamos consertando é usado e,
portanto, JÁ FUNCIONOU BEM ALGUM DIA e cabe ao técnico de manutenção
descobrir porque ele deixou de fazê-lo. Pode ser algum componente
defeituoso, mau contato, programas mal instalados, softwares
defeituosos, vírus ou dezenas de outros possíveis fatores, sendo esta a
tarefa: descobrir o que interrompeu o perfeito funcionamento do
equipamento.
3 — Determine exatamente qual é o problema
A maneira correta de se abordar um problema, por si só, já representa
boa parte da solução do mesmo. Poderíamos também falar assim: “para
resolver um problema é preciso primeiro saber qual é ele”. No caso de
manutenção de micros é fundamental caracterizar bem o defeito. Pequenos
detalhes podem dar pistas valiosas para chegar a um diagnóstico exato,
preciso, que realmente resolva o problema e não algum sintoma por ele
causado.
4 — Resolva o problema e não o sintoma
Cabe aqui o exemplo do médico: imagine que você está doente e vai
procurá-lo. Descreve os sintomas que está sentindo, cabendo ao médico
diagnosticar a causa do problema e buscar a cura para ela. De nada
adianta receitar um remédio para dor de cabeça se o problema é causado,
digamos, por uma sinusite, pois é preciso atacar a causa do problema e
não o sintoma. Voltando para a informática, podemos citar um caso real.
Determinado cliente nos procurou reclamando que seu computador estava
travando. Durante as verificações básicas, que mostramos a seguir,
constatamos que o travamento ocorria quando o microprocessador passava
dos 70ºC e que este defeito já havia sido detectado anteriormente por
outro técnico o qual, na tentativa de remediar a situação, colocou uma
ventoinha na traseira do gabinete. O problema foi resolvido
momentaneamente, porém, com o forte calor do verão, mesmo esta solução
chegou ao seu limite, levando o sistema ao colapso. Analisando o
problema, chegamos à conclusão de que o processador não deveria atingir
aquela temperatura. Revisando o sistema, notamos que uma das presilhas
do cooler estava quebrada, com isto não havia um bom contato térmico
entre o processador e o dissipador de calor, dificultando a
transferência de calor entre ambos, mesmo estando tudo aparentemente
certo. Com a substituição do cooler a temperatura voltou ao normal,
dispensando inclusive a ventoinha adicional. Este é um pequeno exemplo
prático: o primeiro técnico tratou somente do sintoma, não procurou a
causa do problema.
5 — Utilize ferramentas adequadas
Quem lida com manutenção sabe que numa oficina entra uma grande
variedade de aparelhos, de procedências diversas. Igualmente, variam
muito as técnicas de montagem e desmontagem dos equipamentos e de seus
componentes. Justamente por isto, as oficinas precisam ter um pequeno
arsenal de ferramentas (vide o artigo “O que tem na mala do técnico”, na
mesma edição da Revista PnP nº 9). Para fazer um serviço realmente
profissional, sem avariar o aparelho e perdendo o menor tempo, o ideal é
usar a ferramenta certa para cada operação. Por exemplo: se o aparelho
exigir uma chave tipo torx ou philips não tente forçar com uma chave de
fenda ou alicate, que vão fatalmente estragar a cabeça do parafuso e dar
uma aparência amadora ao seu serviço, mesmo que este tenha sido
tecnicamente bem feito.
6 — Tenha seu próprio ferramental
Digo sempre que o bom técnico deve investir em ferramentas, quer
trabalhe por conta ou como funcionário. Procure adquirir a ferramenta
adequada, mesmo que seja para um único aparelho que deu entrada na
oficina. Uma vez com ela na bancada certamente vamos descobrir mais usos
para a mesma e aumentar nossa produtividade. Todo profissional deve
manter e zelar pelas suas ferramentas e instrumentos de trabalho, afinal
é com isso que ganha a vida. Sabemos muito bem que, principalmente para
quem começa na carreira, é difícil fazer os investimentos necessários
para ter o instrumental mínimo, porém é uma meta a ser alcançada. Este é
um esforço que vai se pagar com juros ao longo de toda uma vida
profissional. Tenha suas próprias ferramentas, de boa qualidade e bem
conservadas. Não se envergonhe de ter ciúmes delas e de não querer
emprestar para os outros. Cada um que cuide de suas próprias
ferramentas!
7 — Faça aparecer o defeito ANTES de mexer no aparelho
Falamos disto também na Revista PnP nº 9, mas é importante citar aqui
pois é um procedimento básico. Tem muito técnico por aí — geralmente os
menos experientes — que, ao se deparar com um equipamento supostamente
defeituoso, já vai logo desmontando, formatando o HD ou instalando algum
programa. Calma! Lembre-se das técnicas de primeiros socorros: é
preciso primeiro estabilizar o acidentado ou enfermo, depois é que se
vai tratar do problema. Quando se deparar com um equipamento defeituoso,
antes de mais nada ligue-o e faça acontecer o defeito reclamado. Se
você for logo mexendo em tudo não saberá se o defeito realmente foi
reparado ou se, na verdade, ele nunca existiu.
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